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Deputado vai pedir banimento de livro infantil por apologia ao suicídio

Promotoria será acionada para vetar obra indicada pelo MEC às escolas

A autora de livros infantis Ana Maria Machado foi criticada pelos deputados estaduais de Mato Grosso do Sul durante sessão ordinária desta quarta-feira (26) da Assembleia Legislativa, após sua obra literária infantil, “O Menino que Espiava para Dentro”, ser acusada por alguns parlamentares de fazer apologia ao suicídio. O plano, segundo eles, é pedir ao Ministério Público Estadual (MPE) que o livro seja retirado de circulação na rede de ensino pública em todo o Estado.

De acordo com o deputado Paulo Siufi (MDB), autor da crítica, trechos do livro estariam “induzindo crianças a se engasgarem para poder conhecer as coisas mais belas do mundo e encontrar tudo o que quiser”, disse, mostrando trecho da página 23 da obra.

O parlamentar citou também outro trecho que aconselha a criança a comer a maçã e se engasgar longe dos pais, “pois se eles virem a criança engasgada, eles vão querer desengasgar e então os pais iam estragar tudo”, diz Siufi, ao citar outra parte da obra polêmica.

Na sinopse da obra, o livro conta a história de um menino que gosta de usar a imaginação para fazer parte de um universo mágico. O resumo conta ainda que o personagem tem um amigo imaginário que “anda sobre ondas, come a maçã do sono profundo, mora em conchas, voa pelos ares, vê automóveis-leões e bosques de caramelos”, segundo sinopse no site da Global Editora.

Durante seu discurso na tribuna, Siufi adiantou que vai pedir o recolhimento da obra na Vara da Infância e Juventude da Promotoria. De acordo com o parlamentar, o livro é uma obra paradidática, ou seja, para atividade complementar em sala de aula, que foi recomendada pelo Ministério da Educação (MEC) para ser usado em escolas.

Na ocasião, o deputado lembrou de outro livro, “Enquanto o Sono não Vem”, de José Mario Brant, onde em um dos contos, “A Triste História de Eredegalda”, o pai sugere a ideia de se casar com uma de suas filhas, que acaba morrendo no fim da história.

Polêmica, a obra foi alvo de ataques em 2017 por deputados estaduais e federais, incluisve no Estado, onde chegou a ter seu banimento sugerido pelos parlamentares. Diversas prefeituras decidiram recolher os livros após os protestos.

Brant, escritor e contador de histórias, contou na ocasião que foi surpreendido com as reclamações, principalmente de professores. Ele explicou que conta a história há 25 anos e que o livro já foi publicado há mais de 15 anos.

“Há uma desinformação do que é o conto folclórico e dos contos de fada, que são territórios que abordam assuntos delicados. A gente está falando de um universo simbólico. É uma história que dá voz a uma vítima”, disse.

José Mauro Brant em escola no ES: autor voltou a ser citado por deputados de MS

Tanto a obra de José Mauro Brant quanto a de Ana Maria Machado estão no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

Segundo o Ministério da Educação, por meio de nota, o processo de seleção e avaliação, realizado e publicado em 2014, está sendo revisto.

A Universidade Federal de Minas Gerais, que analisou as obras do PNAIC, disse em abril que as polêmicas em torno de livros infantis “tratam-se de um julgamento indevido construído por leitura equivocada”.

Correio do Estado procurou a Global Editora para responder as acusações feitas por Siuf e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Ana Maria Machado, a autora perseguida da vez pelos deputados de MS

OUTRO LADO

Por meio de nota, a Global Editora, responsável pela publicação do livro de Ana Maria Machado, negou as acusações feitas por Siuf na Assembleia.

Segundo o texto, a analogia da maçã se refere a “um processo poético para a criança entrar no mundo da imaginação. Esclarecemos que as referências à maçã e ao fuso são alusões às histórias da Branca de Neve ou da Bela Adormecida e constituem parte integrante do universo da história, sustentando o argumento de que imaginar pode ser muito bom, mas a realidade externa se impõe. Conversar com os outros (como a mãe) é fundamental, e a afetividade que nos faz felizes está ligada a seres vivos e reais.”

Ainda de acordo com o texto, as acusações são surpreendentes pelo fato de acontecerem longo tempo depois da publicação da obra e fama da autora.

“O livro foi publicado em 1983 e até o momento não havia despertado nada de negativo nessa área. Inclusive, trata-se de uma obra adotada em diversas escolas brasileiras. Ana Maria Machado é considerada pela crítica como uma das mais versáteis e completas escritoras brasileiras contemporâneas, com mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países, somando mais de 20 milhões de exemplares vendidos. O seu carinho e cuidado com a educação de nossas crianças e a formação de leitores sempre foi sua prioridade. Portanto, em momento algum, escreveria algo que pudesse prejudicá-las. Todo o nosso apoio e carinho à Ana Maria Machado. Equipe Global Editora.”

 

fonte: correiodoestado

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