

Execuções acontecem em bairros residenciais e não só na fronteira. Vídeo mostra a execução do segurança do traficante Jorge Rafaat, em um bairro nobre de Campo Grande.
Com cerca de 30 mortes registradas neste ano na fronteira com o Paraguai, entre Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero (Paraguai), a polícia já traçou um cenário das execuções: são bairros residenciais, com movimentação grande de pessoas, em que o risco de atingir inocentes é iminente.
“A gente compara a fronteira de Ponta Porã com o morro carioca, em que muitas vezes dominado por uma facção criminosa e, quando há a execução do lider dessa facção ou quando há disputa entre outras facções pelo território, para poder fazer seus negócios, ocorre uma gama de execuções à luz do dia, causando temor em todas comunidades envolvidas”, afirmou o superintendente da Polícia Federal (PF), Luciano Flores.
Na maioria dos casos, as vítimas caem em emboscadas, surpreendidas por suspeitos com armas de grosso calibre, segundo a polícia. Muitos utilizam carros blindados e, como o sobrinho do narcotraficante Jarvis Pavão, que sofreu tentativa de atentado na última semana, utilizam carros e conseguem escapar ilesos. A caminhonete em que ele estava com mais 3 pessoas na cidade de Pedro Juan foi alvejada com mais de 50 tiros. Uma mulher e uma criança que passavam pelo local ficaram feridas com tiros de raspão. Jarvis está preso em Mossoró, onde cumpre pena após extradição.
A advogada dele, Laura Casuso, foi executada no mês de novembro, também em Pedro Juan. Só entre 13 e 20 de outubro, foram 12 execuções na cidade. No último dia 07, um tio e um sobrinho de Jarvis foram presos na mesma cidade, onde estariam reunidos planejando investida contra grupo rival, segundo a polícia.
Segundo o promotor do Ministério Público do Paraguai, brasileiros também estariam envolvidos na disputa pelo domínio do tráfico na região, e são maioria entre as mortes registradas:
“Estamos vendo muitos cidadãos brasileiros que vivem aqui e que estão ligados a este tipo de crime e terminam sendo executados ou cometendo homicidios ou refugiando aqui em Pedro Juan ou Ponta Porã, comentou o promotor Armando Cantero Fassino.
“Luta que tem muito chão pela frente”
Na fronteira, os moradores de cidades que se destacam pela força da economia, gerando empregos no comércio e com agronegócio e culturas fortes, agora vivem assustados com a disputa pelo tráfico de drogas “escancarado”, segundo a polícia, que enfrenta dificuldades para impedir uma rotina de mortes.
“Você tem medo assim, de você sair na rua e, de repente, por causa de algumas pessoas que devem, você acabar perdendo a sua própria vida”, comentou um dos moradores.
No caso das últimas 3 mortes, na semana anterior, os casos ocorreram com brutalidade e durante o dia. Um empresário, um tatuador e um homem de 28 anos, que veio de Santa Catarina foram mortos em bairros residenciais.
Para a PF, mesmo com operações de combate ao crime organizado no local, acabar com a situação ainda é um desafio para autoridades dos dois países. “É uma luta que ainda tem muito chão pela frente. Não é fácil, com o número de policiais que tem hoje na fronteira, combater esse tipo de crime e esses tipos de organizações criminosas”, afirma.
Histórico de execuções
Para a polícia, a gama de execuções começou com a morte do traficante Jorge Rafaat, conhecido como rei da fronteira, em junho de 2016. Ele foi executado em uma emboscada, em Pedro Juan.
O ex-segurança de Rafaat, foi assassinado com tiros de fuzil em Campo Grande, em outubro. Testemunhas da emboscada, em um bairro nobre da capital, afirmam que o clima de insegurança chegou à capital de Mato Grosso do Sul, que fica a mais de 300km da fronteira. Até o momento, foram 4 execuções em Campo Grande este ano.
Desde a morte de Rafaat, outros traficantes disputam o controle da região, segundo o superintendente da Polícia Federal:
“Você percebe que em diversas regiões do Brasil, há interesses dentro de facções, de dentro dos presídios, para que haja o domínio daquela região e assim os negócios possam ser feitos, gerando mais lucros para essas facções”, afirma Luciano Flores.
Para o promotor paraguaio Armando Cantero, quem paga pela disputa do controle do tráfico, é a população dos dois países:
“Hoje em dia esses crimes estão gerando um perigo para a sociedade, já que são os danos colaterais que se podem ir se dando em relação à pessoas que não têm vínculos com esses bandidos”, finaliza.
fonte: G1 MS