Perto de recessão nacional, Estado vai na contramão e projeta alta em 2022
Boa atuação do agronegócio é o fator preponderante do crescimento do PIB de Mato Grosso do Sul, apontam economistas
Ao contrário das expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, que deve enfrentar recessão técnica neste ano, Mato Grosso do Sul está na vanguarda do crescimento entre os estados.
MS deve ter o maior aumento entre as unidades da federação. Segundo economistas consultados pelo Correio do Estado, essa discrepância se dá porque existem vários brasis dentro de um só país.
“Não dá pra falar em recessão brasileira sem olhar cada caso em específico, temos estados que irão crescer mais de 4% esse ano”, comenta o doutor em economia Michel Constantino.
Com alta inflacionária de 10,06% em 2021, as projeções para o PIB em 2022 estão perto da estagnação. Nesta semana, o Santander colocou o país em recessão técnica, com crescimento projetado abaixo de 1%. O mercado segue projetando alta de 0,42% para 2022.
Contrário a esse movimento está MS. Em estudo divulgado recentemente, a consultoria MB Associados, colocou o Estado como o que mais deve crescer em um período que compreende 2020 até o final de 2022. Serão 4,9% até o final do ano.
Só em 2022, MS terá alta projetada do PIB em 1,4%. Segundo do País atrás de Tocantins, com projeção de 1,7%.
O economista Fábio Nogueira diz que o principal responsável por esse resultado são as commodities.
“Elas estão com altas demandas no mundo todo, e como o dólar esteve valorizado em relação a nossa moeda [PIB é na moeda nacional], e exportamos mais que importamos, tendo consequência o balanço de pagamentos positivo, boa parte deste crescimento é justificável”.
Segundo Constantino, Mato Grosso do Sul tem o que os economistas chamam de vantagem comparativa com outros estados e até países.
“Os recursos naturais, o clima, as fronteiras e a mudança da matriz econômica nos últimos sete anos, fizeram essa vantagem comparativa se definir em números, ou seja, em maior crescimento e melhor previsão de resultado que os demais estados”.
PLANEJADO
Fábio Nogueira cita a elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-MS) como diferencial.
“O estudo mapeou as potencialidades e vulnerabilidades de cada região do Estado, logo, trabalhando de forma planejada nas vocações regionais e investindo em energia-Usinas no Rio Paraná e Termoelétrica-e logística [ferrovias e rodovias] para escoamento”.
Além disso, ele comenta medidas do Governo Federal que deram vantagem ao Estado com o aumento da expansão do crédito rural da última safra em comparação com esse e o congelamento do pagamento das dívidas com a União.
“Os recursos destinados a investimentos tiveram aumento de 29%. Outro detalhe é a tecnificação do Campo e a profissionalização da mão-de-obra, que está cada vez mais qualificada, convertendo em aumento de produtividade”.
Os analistas acreditam que o indicativo de recessão ainda é superficial. Eles dizem que os economistas usam o termo para definir baixo crescimento e alta dos preços e juros.
“Ainda é cedo para falar em recessão, para isso teríamos que saber o quanto vai demorar a guerra e as restrições financeiras impostas ao sistema de pagamento mundial”, considera Constantino.
Segundo o Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, está em 11,75% ao ano e em maio deve passar a 12,75%. Em março, o Governo Federal reduziu a projeção de alta do PIB de 2,1% para 1,5%.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma em comunicado que a valorização de produtos ligados ao agro foi fundamental no resultado.
“A gente viu um impacto importante da valorização das commodities na pandemia. É natural que isso puxe para cima as projeções em estados como esses”, analisa.
NECESSÁRIO
Para o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), “o crescimento do PIB e geração de oportunidades é o resultado de riquezas correndo pelos 79 municípios de Mato Grosso do Sul. Essa projeção do PIB mostra o potencial do nosso Estado”, declara.
Com a pandemia e a invasão russa à Ucrânia o mundo desorganizou as cadeias de abastecimento, principalmente de alimentos e insumos de produção.Com isso, Constantino afirma que o Brasil soube aproveitar muito bem as características econômicas.
“O agro aumentou a produtividade de várias safras e aproveitou os preços nas alturas. Os estados que produzem alimentos e energia são os que mais crescem nesse complexo mundo desorganizado”, analisa.
Para ele, MS, como os demais estados ligados ao agronegócio, tiveram atitudes diferentes entre 2020-2021 em relação à pandemia. “O agro não parou, e os fechamentos de empresas e comércio foram mais amenos no MS e os estados que agora devem crescer mais”, argumenta.
“Então temos uma combinação importante entre estratégias na pandemia e a correlação direta com a economia do agronegócio”, finaliza.
Azambuja ressalta a importância do agronegócio. “Mesmo com a pandemia, nossos produtores rurais responderam afirmativamente, e temos um ciclo histórico de recordes de safras”.
fonte: correiodoestado RODRIGO ALMEIDA