Seca paralisa transporte de grãos pela hidrovia Tietê-Paraná
É a segunda suspensão da rota devido ao baixo nível das águas
A seca sobre a bacia do rio Paraná já interrompeu a principal rota de grãos da Hidrovia Tietê-Paraná, que liga produtores do Centro-Oeste a um terminal ferroviário em Pederneiras (SP), limitando as operações a um trecho da via mais próximo ao rio Paraná.
Segundo a Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária), o último comboio de grãos do Centro-Oeste fez o trajeto até Pederneiras na semana passada. O setor trabalha agora para tentar garantir o retorno o mais rápido possível.
É a segunda suspensão da rota devido ao baixo nível das águas e o mercado critica atrasos na conclusão de obras prometidas pelo governo federal após a primeira paralisação, entre 2014 e 2015, que gerou um prejuízo de R$ 700 milhões.
As obras que garantiriam o fluxo mesmo com nível de águas mais baixo deveriam ser concluídas em 2017, mas o prazo já foi adiado duas vezes. O objetivo do projeto é aumentar em dois metros a profundidade de um trecho próximo à hidrelétrica Nova Avanhandava, em Buritama.
“O que acontece ali é falta de investimento”, diz o presidente da Fenavega, Raimundo Holanda, que também ocupa uma das vice-presidências da CNT (Confederação Nacional do Transporte). “Existe projeto mas não existe recurso, porque navegação não dá voto, não chama a atenção do povo.”
A obra atrasada compreende a implosão de um pedral na rota das barcaças para a eclusa de Nova Avanhandava. A rocha reduz a profundidade do rio e, desde que as águas começaram a baixar, os comboios vinham operando com capacidade de carga reduzida.
Para garantir o tráfego com o nível mais baixo, o trecho vinha operando sob um esquema especial de “pulsos” de água: quando o comboio se aproximava, a hidrelétrica liberava água para aumentar o nível rio abaixo e permitir a passagem das barcaças sobre o pedral.
Mas o nível baixou tanto que os transportadores já não consideram vantajoso trafegar com tão pouca carga. “Chegou no limite”, diz Holanda. O tráfego é mantido apenas no chamado corredor sul da hidrovia, já depois do encontro do Tietê com o Paraná.
Ainda assim, de maneira precária, com a capacidade das barcaças também limitada. Operadora neste trecho, a Hidrovias do Brasil diz que segue tomando todas as medidas possíveis para tentar evitar uma parada de suas rotas.
“A situação dos rios da região segue atípica, com nível de calado abaixo das médias históricas”, disse a empresa, em nota divulgada nesta quarta (1), na qual diz que vem enfrentando grandes restrições operacionais.
A região, que passa pela pior seca desde que os registros começaram a ser feitos, é também de fundamental importância para o setor elétrico, já que os reservatórios de suas hidrelétricas concentram dois terços da capacidade de armazenamento de energia do subsistema elétrico Sudeste/Centro-Oeste.
Com a paralisação do transporte de cargas entre o Centro-Oeste e Pederneiras, espera-se aumento do custo logístico da produção agrícola e elevação no fluxo de caminhões nas estradas paulistas. Segundo estatísticas do governo paulista, em 2020 passaram pela hidrovia 6,16 milhões de toneladas de carga.
“Perde todo mundo”, diz Holanda. “Estamos numa crise hídrica sem precedentes. Não tem chovido nos últimos anos e não está acumulado água. E não existe planejamento para combater crises hídricas e energéticas.”
Convênio assinado em dezembro de 2014 pelo governo de São Paulo e pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) previa a transferência de R$ 313 milhões (R$ 452 milhões a valores de hoje) em recursos federais para as obras no canal de Nova Avanhandava.
O texto estipulava um prazo de 916 dias, que terminaria em julho de 2017. Em 2019, já após o primeiro adiamento do prazo, o contrato entre o governo estadual e a construtora responsável pelas obras foi rompido por dificuldades financeiras do fornecedor.
Desde então os governos Jair Bolsonaro e João Doria discutem a retomada do projeto -para o governo paulista, o impasse indica má vontade do governo federal com o adversário político.
Em janeiro de 2020, o prazo das obras foi estendido em mais 1.346 dias, com vigência até setembro de 2023. Agora, o governo Bolsonaro prevê usar recursos da capitalização da Eletrobras para concluir a obra, incluída entre as obrigações financeiras que a estatal terá após a venda de ações prevista para o primeiro trimestre de 2022.
Ela é parte de um orçamento de R$ 230 milhões reservados para melhoria na área de influência de hidrelétricas de Furnas. O projeto prevê também aportes para melhorar a navegabilidade dos rios Madeira e Tocantins, este último também restrito por um pedral.
fonte: correiodoestado FOLHAPRESS